Rua Crixás, 63 Fundos. Esse foi um dos primeiros endereços que aprendi a saber quando criança. A casa de Agriões sempre foi sinônimo de aconchego, alegria, brincadeira…Chegando na entrada, já avistava vovó Madalena e ouvia o louro chamando “Madalena! Madalena!”. Íamos pra lá todos os dias, depois da escola, enquanto minha mãe trabalhava e sempre tinha cheiro de bolo e café recém coado.Era a casa da melhor vó do mundo, e quem tem a sua sabe bem do que estou falando. Com ela podíamos fazer de tudo e o bom humor estava sempre presente, assim como o cheiro bom de comida que vinha sempre da cozinha. Comida simples, caseira, a melhor de todas. Não preciso nem fechar os olhos pra sentir o gosto dos quitutes. Não parece que faz tanto tempo, parece que foi ontem e que ainda posso chegar lá e me deparar com aqueles doces olhos azuis e o sorriso nos lábios com os braços abertos pra um abraço de boas vindas. Ah, aquele abraço…Foram 11 anos de muitos abraços e experiências de um amor tão grande que é difícil colocar em palavras.Foi naquela casa, naquela rua, que todos os netos aprenderam a andar de bicicleta, fazer clube de aventureiros e os mais ousados andar de carrinho de rolimã e mais tarde skate. Muitos tombos seguidos de “beijinhos curativos” que nos deixavam prontos pra próxima aventura, sem medo. Não tinha espaço pra ter medo, o porto seguro era ali.Hoje, 32 anos depois que ela se foi, a casa continua lá, mas tudo mudou. A rua tem outro nome, o jardim cheio das flores que ela tanto amava não existe mais. As rachaduras e paredes descascadas ocuparam o espaço que antes era tão bem cuidado. Mas apesar de tudo isso, as memórias seguem presentes, vivas como se ela ainda estivesse lá.Acho que é assim que funciona. Os ciclos se encerram, as coisas mudam, mas certas coisas permanecem. Dentro da gente seguem intactas, e nada pode apagar, rachar ou descascar. A memória guardada com afeto não precisa que o externo permaneça, porque o amor mantém viva a lembrança. Aí, basta uma parede descascada para reativar aquele gatilho que transporta de volta ao tempo das paredes branquinhas e da casa cheia de afeto com um abraço apertado aguardando na porta.
Confira os artigos que tenho escrito com carinho para vocês.